Hoje nosso passeio é pela cidade de Curitiba. Mas visitaremos um exemplar singular da arquitetura modernista na cidade, projetada por Vilanova Artigas, arquiteto curitibano, de grande influência na arquitetura brasileira.
A casa na Rua da Paz, perto do Mercado Municipal, no centro da cidade, foi construída entre 1949 a 1953, a pedido do médico João Luiz Bettega, para ser a sua residência. O terreno apresenta algumas características que foram tomadas como partido para o desenvolvimento do projeto arquitetônico: a frente relativamente estreita do lote e sua grande aclividade em relação à rua. Outro elemento característico da casa é a sua fachada, nada convencional para a época, que além de explorar as formas geométricas, também destaca a composição com o uso de pilotis (elemento estrutural deixado à mostra).
Ao chegar em frente à casa nos deparamos com um muro revestido em pedra, que tem a função de muro de arrimo (que ajuda a conter a inclinação do terreno e o desnível para a rua). O acesso de dá em nível com a rua, que distribui o visitante ou para o acesso à garagem ou para o acesso lateral do terreno, que leva o visitante para a entrada efetiva da casa (quase no meio do lote). Este acesso lateral (como podem ver nas fotos) possui um revestimento de calçada em petit-pavé, quase como uma extensão das pavimentações de calçadas que encontramos em grande parte da cidade. E para identificar este acesso lateral, a porta é marcada por um pergolado, que também filtra a luz neste corredor lateral.
A casa possui interligações verticais por meio de rampas, que conectam o projeto planejado em meios níveis. A sala principal possui um pé direito duplo, vedado por um grande pano de vidro que permite a ligação interno e externo da residência, causando uma grande sensação de liberdade para a sala.
Outro ponto importante no projeto foi a orientação solar, voltando os ambientes de maior permanência, como sala e dormitórios, para a face noroeste, com a finalidade de receber mais luz solar (fato importante para as edificações construídas em Curitiba, com seu clima característico). E neste arranjo, Artigas coloca os dormitórios todos alinhados, inclusive as dependências de empregada (ainda comuns nos anos 1950), proporcionando uma condição de igualdade de bem estar entre os ocupantes da cada. Fato que refletia seu posicionamento político e social em um país que tentava se estruturar enquanto sociedade…
Ainda para o acesso a estas dependências, Artigas cria uma magnífica escada em espiral, escultórica, e um grande atrativo dentro da residência pela sua beleza, forma e estrutura. E, dizem muitos estudiosos, influenciado pela leitura do arquiteto dos projetos de Frank Lloyd Wright.
Desde os anos 1990 a casa vem passando por um processo de reconhecimento de seu valor cultural, ainda mais tendo em vista as raras casas de Artigas preservadas em sua cidade natal. E em 2002, depois de algumas interrupções no processo de tombamento, a casa teve seguimento nos trâmites que a transformaram em Patrimônio Estadual.
Hoje a casa pertence a uma arquiteta, professora e estudiosa de Artigas, que vem cuidando do espaço com muito carinho e zelo. Você conhece esta casa? Já passou na frente dela? Conhece outros projetos do Artigas? Confira nossas fotos a seguir!