PINACOTECA DE SÃO PAULO: DO LICEU DE OFÍCIOS À PINA

Hoje vamos viajar para a Pinacoteca de São Paulo e desvendar um pouco sobre a intervenção de Paulo Mendes da Rocha, e equipe, sobre um edifício que virou um dos símbolos dos espaços culturais da cidade. Construção que passou por muitas transformações, em especial quanto ao seu uso, sendo hoje veiculada com o nome Pina_ nas redes sociais. 

O Edifício foi projetado pelo escritório de Ramos de Azevedo, com desenhos de Domiciano Rossi, para abrigar o Liceu de Artes e Ofícios (nos moldes como planejava William Morris! Então confira nosso post do dia 27/03!!!), na Av. Tiradentes, ao lado do Jardim da Luz. O projeto visava atender uma demanda da elite crescente da cidade em formar mão de obra qualificada para transformações que viriam a seguir. Vale lembrar o grande crescimento populacional – aumento de cerca de 4x! – e industrial da cidade na virada dos séc. XIX e XX, além da transição da mão de obra-escrava para a assalariada. Para isto o Liceu foi projetado para atender a formação de operários da construção civil, além de outros profissionais como lavradores de mobiliário, fundidores de monumentos, entre tantos outros.

O espaço foi inaugurado em 1900 (mesmo não tendo nunca sido concluído) atendendo aos anseios da construção de uma ideia de República (O Brasil havia Proclamado a República em 1889). Para isto, simbolicamente o edifício foi idealizado em uma linguagem neorrenascentista, onde predominava a monumentalidade, além do uso de elementos do repertório da arquitetura clássica, como as colunas, arcos, frontões e cúpula (esta nunca construída. 

Com a inauguração, o edifício passou a receber, mesmo inacabado, os alunos da escola primária e para formação artística. Mas não demorou muito para se perceber que o prédio estava superdimensionado ao ser comparado ao número de alunos. Já os alunos para formação técnica, foram alojados nas instalações do porão, local com pé-direito baixo, e inadequado às funções e à quantidade de alunos, mais de 800! Como resultado, os alunos foram transferidos ou para um ginásio ou para novos galpões projetados para atender a necessidade de espaço, e, assim, o edifício foi gradativamente perdendo sua função original, e tornando-se um edifício em quase desuso. Eram comuns relatos de pessoas que passavam na frente do edifício e faziam o sinal da cruz, por acreditarem ser uma igreja. Ou ainda pessoas que mal queriam chegar perto da edificação, pois acreditavam ser um local muito perigoso (e de fato, muitos assaltos eram comuns nesta área, que foi sendo degradada de diversas formas).

Em paralelo a este declínio, o espaço abrigava uma parte da Pinacoteca do Estado, mas sem muitas condições de infraestrutura para este fim. Mesmo assim, o prédio foi tombado em 1982, visando à preservação do conjunto arquitetônico do bairro da Luz, com a Estação da Luz, a Estação Júlio Prestes e o Museu de Arte Sacra.

Foi então, que na gestão do artista plástico Emanoel Araújo, diretor da Pinacoteca entre 1992 e 2001, houve uma guinada na condução da instituição, que agora objetivava uma maior visibilidade e infraestrutura para abrigar exposições das mais diversas, inclusive internacionais. Para isto foram captados recursos para as alterações do edifício.

Entre 1993 e 1998, o edifício passa por uma grande transformação chefiada pelos arquitetos Paulo Mendes da Rocha, Weliton Ricov Torres e Eduardo Argenton Colonelli, entre outros profissionais, resultando em um espaço adaptado às novas necessidades para exposições.

Segundo Paulo Mendes da Rocha duas transformações foram as mais significativas: a primeira foi “transferência da entrada principal na Av. Tiradentes para a lateral”, o que obriga ao transeunte a circundar a edificação e contemplar a sua plástica; e a segunda, com a criação de passarelas internas para conectar o edifício no segundo pavimento, “criando uma nova espacialidade, que antes era apenas vivenciada pelas andorinhas”.

Quanto às novas intervenções vale destacar ainda, que todas elas foram realizadas com materiais contrastantes, deixando evidente a estrutura antiga e as novas. Entre elas, podem ser ressaltadas:

– a inclusão dos elevadores, 

– a reestruturação das infraestruturas elétricas e hidráulicas, 

– a inclusão de um auditório, 

– a criação de um belvedere na entrada principal, 

– a inclusão de uma cobertura metálica nos pátios internos (favorecendo as exposições, agora protegidas das intempéries), 

– as esquadrias frontais do segundo pavimentos foram fechadas com chapas metálicas, as esquadrias internas foram retiradas (permitindo maior visibilidade entre os espaços expositivos) e algumas aberturas nas demais fachadas foram vedadas com vidros espelhados.

As alterações arquitetônicas favoreceram que o prédio abrigasse importantes exposições tais como as esculturas de Rodin e Camille Claudel, além de obras de diversos artistas brasileiros, em especial, da arte produzida no mesmo período em que o edifício fora construído. Estas exposições atraíram milhares de pessoas, que fizeram fila para entrar no prédio. E renderam aos arquitetos o prêmio Mies van der Rohe.

O impacto da transformação pode ser sentido em todo o entorno, e a valorização destes edifícios, como previu o tombamento de 1982, foi, em certa medida, atingido.

Recentemente foi feita uma remodelação da comunicação visual da Pinacoteca, e sua logomarca foi transformada de modo a explorar elementos visuais da própria edificação. Muitas críticas foram levantadas, associando à marca ao tratamento que havia sido dado também à cidade do Porto (Portugal). Além disto, foi adotada uma nova identidade à instituição, de modo que ela pudesse comunicar uma linguagem mais jovem (será?). Por isto foi adotada a nova nomenclatura nas redes sociais, Pina_. Ficamos aí na repercussão destes novos rumos que tentam aproximar os espaços culturais de seu público.

E você, já visitou algum projeto antes degradado e que passou por uma remodelação como esta? Deixe seus comentários em nossa página.